
A Argentina enfrenta um dos maiores escândalos de saúde pública de sua história após a morte de pelo menos 96 pessoas que receberam fentanil contaminado com bactérias super-resistentes. O caso, que começou a ser investigado no final de 2023, ganhou repercussão somente em maio de 2024, quando diversas instituições médicas denunciaram irregularidades no uso do analgésico em hospitais do país.
As ampolas contaminadas, cerca de 300 mil, foram produzidas pelos laboratórios HLB Pharma Group e Ramallo, atualmente sob investigação. As bactérias Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii foram encontradas tanto nos frascos quanto nos corpos das vítimas. Segundo o juiz federal Ernesto Kreplak, dois lotes de fentanil foram identificados, sendo que um deles foi amplamente distribuído e utilizado.
Entre as vítimas está Leonel Ayala, de 32 anos, músico e educador, que foi internado por dores abdominais e, após complicações, recebeu fentanil durante seu tratamento. Dias depois, desenvolveu uma infecção fatal. O Hospital Italiano de La Plata, onde ele foi tratado, registrou pelo menos outras oito mortes em circunstâncias semelhantes, o que levou à descoberta da contaminação.
Familiares das vítimas criaram um grupo chamado “Unidos pela justiça das vítimas do fentanil mortal”, onde compartilham informações e tentam identificar mais casos. Muitos relatam situações semelhantes: pacientes que apresentaram melhoras após cirurgias, mas que subitamente desenvolveram infecções graves e fatais.
A falta de rastreabilidade do medicamento dificulta a identificação das ampolas contaminadas. O fentanil é de uso hospitalar e não possui um sistema de controle que permita saber exatamente onde e quando cada lote foi administrado.
A Justiça argentina já apreendeu os lotes suspeitos e investiga mais de 24 pessoas envolvidas na cadeia de produção e distribuição do medicamento. Os familiares das vítimas exigem justiça e a criação de protocolos de controle mais rigorosos para evitar que tragédias como essa se repitam.


