Clay Cockrell, psicoterapeuta baseado em Nova York, se especializou em atender pacientes ultra-ricos e compartilha lições sobre os efeitos negativos da abundância extrema. Em entrevista à BBC News Brasil, ele descreve o que chama de “efeito tóxico da abundância”, uma constante insatisfação que leva seus pacientes a acreditarem que nunca têm dinheiro suficiente — mesmo após acumularem fortunas milionárias.
Cockrell afirma que, ao contrário do senso comum, o dinheiro pode complicar a vida, trazendo isolamento, desconfiança e dificuldades de relacionamento. Muitos de seus pacientes enfrentam solidão, desconfiança em novas relações e uma desconexão com a realidade. Segundo ele, a riqueza pode gerar uma espécie de vício, em que a busca incessante por mais dinheiro substitui a busca por propósito e felicidade genuína.
O terapeuta também observa que filhos de super-ricos lidam com pressões específicas: desde a falta de motivação por já terem “vivido tudo” até a cobrança de superar os feitos dos pais. Isso pode levar a comportamentos de risco e crises existenciais. Ele destaca que o excesso de proteção e o acesso precoce a luxos extremos podem resultar em tédio, falta de ambição e até depressão.
Cockrell ganhou notoriedade ao relacionar sua prática com a série Succession, que retrata os conflitos de uma família bilionária. Ele considera a série um retrato fiel dos desafios emocionais enfrentados por seus pacientes, apesar das dramatizações.
Segundo o terapeuta, muitos super-ricos estão cientes da percepção ambígua que a sociedade tem sobre eles — ora admirados como visionários, ora criticados como símbolos de desigualdade. Casos como o do bilionário Jeff Bezos, alvo de protestos durante seu casamento em Veneza, ilustram esse contraste.
Por fim, Cockrell deixa uma reflexão para o público em geral: a felicidade não está no dinheiro. Ele defende que o verdadeiro bem-estar vem de relacionamentos, propósito e contribuição para a comunidade. Sua experiência com os milionários serve de alerta para não depositar no dinheiro a expectativa de realização pessoal.
